Alguma coisa subiu à cabeça de Eduardo Pazuello durante a quarentena cenográfica que o general se autoimpôs para protelar o depoimento à C...
Alguma coisa subiu à cabeça de
Eduardo Pazuello durante a quarentena cenográfica que o general se autoimpôs
para protelar o depoimento à CPI da Covid. Nas palavras de um militar que
conversou com Pazuello, ele "começa a perceber que é muito estreita a
fronteira entre ser leal ao presidente Bolsonaro e ser estúpido.
Sem o foro privilegiado do
Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro da Saúde é acossado pelo Ministério
Público em Brasília e Manaus. Realiza nos inquéritos uma excursão pelos nove
círculos do inferno. Há na CPI duas diferenças que o inquietam: os refletores e
a percepção de que, rendido às conveniências do Planalto, terá de carregar não
uma, mas duas cruzes —a sua e a de Bolsonaro.
Tomado pelo que diz em privado,
Pazuello flerta com a ideia de silenciar na CPI. Para isso, teria de
reivindicar no Supremo Tribunal Federal o direito constitucional de ficar
calado para não se autoincriminar.
Em tese, o general seria obrigado
a responder a todas as interrogações dos senadores, pois falará à CPI como
testemunha, não como investigado. Mas foi alertado por um advogado amigo sobre
a possibilidade de alegar na Suprema Corte que, na prática, recebe tratamento
de investigado.
O general poderia sustentar, de
resto, que tudo o que disser na CPI pode ser usado contra ele nos processos
tocados pelo Ministério Público.
O depoimento de Pazuello à CPI
deveria ter acontecido na última quarta-feira. Foi adiado para 19 de maio. Os
senadores do G7, grupo majoritário na CPI, se equipam para cercá-lo. Se o
general levar adiante a ideia de se esconder atrás do silêncio, o gesto terá
para Bolsonaro uma aparência de Waterloo.
A essa altura, o eventual
silêncio de Pazuello gritaria para a plateia que Bolsonaro e seu governo
tornaram-se indefensáveis.

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